quarta-feira, 20 de março de 2013

Já não se fazem mais matutos como antigamente


  A cidade engole o campo e o “jeca” quer ser “cowboy”. Meninas de trança com vestido de chita rodado? Rapazes de calças curtas, camisa xadrez surrada e botina furada? Palavreado com sotaque brejeiro, sorriso desconfiado e desdentado? Qual o quê! Pode até ter nos cantos mais recônditos do sertão e/ou Cerrado brasileiros, mas isso hoje é mais coisa de filme antigo ou novela contada em flashback. Já era!

           O arrasta-pé ou bate-chinela ou fobó (como queira chamar) da roça perdeu espaço para os bailes e shows do arraial mais perto ou da capital. Trocaram o“burrico” e o cavalo por num sei quantas lá cilindradas e os carros de boi por carros importados há tempos. Evidentemente que isso é um luxo para poucos. Os mais "humiRdes" vão aonde tem que ir de ônibus, “furreca veia”, bicicleta, motoca, mas em cima de uma mulinha? Poucos fazem isso. Os bichos são usados mais na lida do dia a dia mesmo e só.

Quanto maior a fivela ... menor a fazenda, reza a lenda.
 Num vou dizer que isso é ruim nem que sou avessa ao conforto da cidade grande ou à modernidade ou, ainda, ao “look fashion”, muito pelo o contrário. Só não acho muito legal “neguim” fantasiado de ‘cowboy’ dos pés à cabeça o dia inteiro e todo dia. Inclusive, na maioria das vezes, esse(a) nunquinha nem montou numa égua nem apaRtou umas vacas. Mas isso é mais uma bobagem. Cada um veste o quer, o que gosta e o que pode, né "meRmo".

            - "Peão bão era o Tonho Pea Onça", se lamenta o Dono da Roça com a falta que faz hoje em dia a mão de obra especializada na lida diária com os bichos na roça.

      Mas como eu ia dizendo, foi-se o tempo em que o sertanejo era desprovido de vaidade. Hoje em dia o estilo dito sertanejo dita a moda e fala-se "country", e a calça é de grife, a camisa idem, a bota é de couro de avestruz, o cinto tem fivela invocada e cheia dos brilhantes por demais e o chapéu tem pedigree. Uia!
Se eu usasse um 'visu' desses aqui na roça, o dono da roça ia
dizer que eu tava pulaNU a ceRca
Chic pra ir num evento country. Amei!
O dono da roça ia ficar lindho nesse look, mas ia
jogar fora o "lencim", ia.
                    Para se ter uma ideia do mercado milionário por trás do estilo country, segue abaixo alguns exemplares de botas e seus respectivos preço$ num breve pesquisada que fiz na internet:
  
bota em couro de avestruz - R$ 977,00
Cintos femininos com pedrarias - R$ 720,00
Um chapéu como este, aparentemente simples,
pode custar R$ 295,00. E esse é dos baratos.

Na última festa de Barretos tinha bota à venda em couro píton cravejada de diamantes mais cara que a boiada inteira do dono da roça: R$  77 mil. É mole? Óia a foto da bicha aí:

     O mesmo empresário, Olívio Martins, que confecciona a bota cravejada de diamantes acima, usa outros materiais exóticos como couro de arráia, jacaré, pirarucu, hipopótamo e elefante, onde os preços variam de R$ 750,00 a R$ 55 mil. O comprador recebe, no ato da compra, um número de identificação do Ibama atestando a legalidade do produto.

Bota masculina em couro de arraia, detalhes em ouro
e diamante. Preço: R$ 23 mil


Bota feminina em ouro de arraia com detalhes em ouro,
rubi e diamantes. Custa R$ 55 mil
         O "homi" faz até vestido de noiva  com couro, organza de seda pura, tafetá e brilhantes cor de champanhe, e traz detalhes em ouro e flores feitas com escamas de pirarucu, um peixe amazônico, pela bagatela de R$ 600 mil. E, como ele é caridoso, tem uma versão mais em conta pros mais "humiRde" no valor de R$ 175 mil.


     Segue aí, abaixo, o criador com uma de suas criaturas - uma peça que ele fez para Mariah Carey cravejada de rubis e diamantes.  "Todo ano eu faço uma peça ousada, que eu considero ser uma joia, uma obra de arte", diz ele - Olívio martins. é ou não é um luxo para poucos.

Olívio Martins com sua peça exclusiva no valor de R$ 55 mil.
          E já que estamos falando de cowboys, quero deixar aqui a minha homenagem àqueles que considero de verdade, muito embora façam parte apenas do nosso imaginário e das telas do cinema: Jonh Wayne e Clint Eastwood (os maiores cowboys do cinema). Um destaque especial para Mazzaropi - esse é nosso e caipira de tudo. Cada um na sua, cada um no seu, cujo tipo que fizeram não deixa escapulir o que eram e serão para sempre – astros.
Um chaRme esse John Wayne
Oh, "homi" bonito pra eu achaR ... Clint Eastwoooooooood

É "feim", mas é nosso - Mazzaropi
 Vez por outra, topo com um desses matutos à moda antiga (à la Mazzaropi), mas são das antigas mesmo com suas roupas surradas, chapéus castigados, rostos queimados, mãos calejadas, roceiros de fato e de direito. Esses estão mais raros, como também seus cabelos:  grisalhos. Trazem na fala o melhor da nossa língua –  a expressão nua do ser rural.
          
           Quanto a mim, gosto de coisas bonitas: rendas, sedas, fendas, fitas, mas no dia a dia é no jeans e camisa mesmo que me acho. Os colchetes deixam feridas ... A bota tem que ter. Como eu digo e canto: "bota a bota, menina, na roça que é perigoso andar sem bota. Na roça tem cobra". 

Camiseta Riachuelo R$ 19,90; Calça Mofficer (na promoção) R$ 98,00;
Camisa xadrez Zara R$ 79,90; Botas cano curto Renner R$ 89,00;
óculos estilo Rayban Feira dos Importados Brasília R$ 39,00;
Chicote em couro do Burro no Brete R$ 59,00.


             Para encerrar, vamos rir agora com um matuto desses nocinema? Segue aí uma anedota de um paraibano de Campina Grande - Jesseir Quirino - "arquiteto por profissão, poeta por vocação, matuto por convicção". Inté!