quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Um “causo” que me contaram ...

           Foram dias difíceis para ela aqueles de há mais de quarenta anos. A anemia profunda, o cansaço e o abatimento lhe levariam a uma inevitável internação. Espalhou os filhos, seis ao todo, todos de partos difíceis, pelas casas dos parentes, e estava só em casa naquela manhã, se arrastando como podia pelos cantos, deixando as coisas no jeito à espera do marido que a levaria para dar entrada no hospital e, enfim, descobrir sobre que mal lhe acometia para aquela hemorragia de dias.

Foi quando recebeu uma visita inesperada de um estranho andarilho: barbas compridas e brancas e cabelos idem; roupas de um algodão cru e limpo apesar de surrado. Ao abrir-lhe a porta, esse lhe cumprimentou com um bom dia, simplesmente, e lhe perguntou com uma voz confortante: “Está doentinha, não é, minha filha?” Tamanha era a paz e a segurança que esse estranho irradiava que ela não teve medo algum de deixar-lhe entrar e sentar-se, respondendo-lhe com a mesma simplicidade: - “Sim, estou!”
Você deverá fazer o seguinte, começou a dizer o senhor de barba branca: um chá bem forte de canela. Tome-o todo! Daí, prepare um banho de água quente e descanse o corpo imerso nessa água. Não se preocupe comigo, faça de conta que não estou aqui, vá cuidar de você, ordenou o senhorzinho.
Assim ela fez: o chá extra-forte de canela e o banho bem quente, em seguida, na casa de banho. Cólicas profundas, como se fora dar à luz, lhe vieram e logo ela soube o porquê. O chá indicado pelo estranho mais o banho morno fizeram com que o seu organismo expulsasse um feto morto há dias -  eis a razão das hemorragias, das dores, da fraqueza ...
Contando-me o caso naquela simplicidade brejeira toda, e do alto dos seus  bem mais de setenta anos, nem viu o quão espantada eu estava e boquiaberta, perplexa. Meu, Deus, que estória! Pensava eu.
E ela continuou me contando: enterrei-o bem ali, no fundo do quintal, dentro de uma caixa de sapato. Já tava todo formado o pequeno ... Após isso, o senhor me mandou tomar outro banho morno, e tornou a dizer: Não se preocupe comigo, faça de conta que não estou aqui, vá cuidar de você! Isso me renovou as forças e me fez sentir fome que há muito não sentia. Fiz um arroz de carreteiro pois já era hora do almoço e o marido estava pra chegar. Quando chegou, você pensa que ele estranhou aquele senhor barbudo e sentado na nossa sala? Não. Engataram uma prosa boa, como se fossem velhos conhecidos. O senhorzinho lhe disse a que veio, me acudir, e que não precisava se preocupar mais comigo nem me levar a hospital algum, que eu estava curada e que podíamos pegar nossos filhos de volta da casa dos parentes. Sendo que nada dissemos a ele de filhos espalhados por casas de parentes.
Não soubemos qual o seu nome, prosseguiu ela, ou de onde veio, se tinha família, onde morava ... Nada. Nem nos veio no pensamento a ideia de perguntar, disse-me ela. Simplesmente estávamos ali com aquele estranho como se estivéssemos com um ente querido em visita colocando a prosa em dia. Ele não quis beber nem comer, nem café tomou. Depois do nosso almoço só reclamou cansaço e pediu para dormir nalgum lugar. Cochilou em cima de alguns bancos juntos e, no meio da tarde, levantou dizendo que deveria ir embora antes da chuva chegar. Eu e o marido estranhamos pois não havia sequer nuvens no Céu naquele instante. Ele insistiu e nos disse que tinha que seguir seu caminho. E assim foi. Ainda lhe ofereci uns cachos de banana, umas quitandas, perguntei se havia alguma coisa que pudéssemos fazer para lhe agradecer, mas ele não quis nada. Despediu-se e se foi.
Contados alguns minutos, não, segundos, disse-me ela, choveu tanto pras bandas desse Cerrado, uma chuva que nunca se viu antes na história dessa fazenda. Nada de só chuvisco ou chuva, chuvarada: foi uma tempestade de lavar chão e alma. Um desassossego pros bichos. Alagou represa, transbordou o córrego, destruiu roçado, arrancou telhado. Entrei em desespero, disse ela, e pedi pro marido que fosse atrás do senhorzinho porque essa chuva podia até matá-lo. 
Ele foi, mas não encontrou ninguém e chegou dizendo que a chuva choveu apenas e unicamente na roça deles – da porteira pra lá o Céu estava mais limpo que a roupa de algodão do senhorzinho que salvou a vida da tia naquele dia. "Sim, eu sentia que estava morrendo, e seria naquele dia, e ele me salvou – aquela alma boa ou anjo bom mandado por Deus me salvou", concluiu ela.
Não preciso falar aqui do tamanho do “arregalo dos meus ói” quando a tia terminou de me contar seu “causo”, né?
Pois é, milagres de fato acontecem para aqueles que acreditam neles, como se diz por aí, e coisas boas acontecem com pessoas boas e puras de coração como a tia Aurora, independentemente de credo, cor, religião. Sem entrar nesse mérito da questão, “andar com fé eu vou que a fé não costuma falhar”. Aqui na roça é assim! Fim.
Tia Aurora – tia do dono da roça,
viúva do tio Zé de quem o dono da roça
 é, ou foi, sobrinho de verdade. Entendido?

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Um Velho Carro de Boi

Logo na entrada da fazenda, há uns "restos mortais" do que um dia foi um imponente carro de boi. Reza a lenda aqui na roça que ele matou o seu condutor, virando sobre ele – o Sr. Ângelo – remanescente de escravos e que foi adotado pelo bisavô do Dono da Roça, o Sr. Isaque Gonçalves Soares. Era tão querido por ele que, além de usar seu sobrenome, herdou 60 alqueires de terra boa de plantar e de viver.
Começou como meeiro – agricultor que trabalha em terras que pertencem a outra pessoa. De forma geral, funciona assim: o meeiro ocupa-se de todo o trabalho braçal e, daí, reparte com o dono da terra o resultado de toda a produção. O dono da terra, por sua vez, fornece o terreno, bem como todo o material agrícola necessário para ajudar no trabalho, inclusive animais. À vezes, até uma casa e um pequeno terreno para cultivo particular do meeiro e sua família. Até hoje no Brasil essa forma de meação é muito praticada. O Dono da Roça aqui, vez por outra, faz esse tipo de transação.
Última produção de milho aqui da roça
De tudo ele, o Ângelo, fazia de tão trabalhador e, quando recebeu seu pedaço de chão, achou seu lugar ao Sol. Além de cultivar e vender hortifrutigranjeiros em geral, da cana fazia o caldo, a rapadura, o melaço fino, o melaço grosso, o açúcar, a cachaça, o álcool, forragem e sacharina para alimentação bovina. 
Do milho – a pamonha, o curau, a canjica, a pipoca, o cuscuz, o óleo, o creme de milho, angus, sopa, a ração dos bichos. E por aí vai.
Conduzia ele mesmo seu carro de boi transportando sua produção para vender nos arraiais vizinhos. Morreu trabalhando, como aconteceu com tantos outros antes dele e depois também. 



           Introduzido pelos colonizadores portugueses, o carro de boi foi um dos principais meios de transporte utilizados para transportar a produção das fazendas para as cidades, mas ainda é utilizado em algumas regiões do país, principalmente no nordeste.
Apesar de ser um meio bastante rústico, ainda há fazendeiros que realizam mutirões de carros de bois para transportar suas produções agrícolas e outros produtos.

           O som estridente característico do carro de boi é chamado de canto, lamento ou gemido e já faz parte da nossa cultura. Quando está em movimento esse som – o cantador – anuncia sua passagem. Na composição musical de Luiz Bonan Serafim Colombo Gomes, Poeira Vermelha, eternizada na voz de Sérgio Reis, diz no primeiro verso:


"O carro de boi lá vai gemendo lá no estradão 
Suas grandes rodas fazendo profundas marcas no chão 
Vai levantando poeira, poeira vermelha, poeira 
Poeira do meu sertão"

 Algumas das partes do carro de boi:
·         canga: peça em que se prende o cabeçalho ou o cambão,e que é colocada sobre o pescoço de dois bois, responsável pela transferência de energia mecânica ao cabeçalho.
·         canzil: Peças em forma de estacas trabalhadas que atravessam a canga de cima para baixo em quatro pontos, de modo que o pescoço de cada boi fique entre duas dessas estacas;
·         arreia: suportes que atravessam transversalmente o cabeçalho, sobre os quais se apoiam as tábuas da mesa;
·         cabeçalho: a longa trave que liga o corpo do carro à canga, que se atrela aos bois;
·         cantadeira: parte do eixo que fica em contato com a parte inferior do chumaço. O contato entre eles produz o som característico do carro;
·         cheda: Prancha lateral do leito do carro de bois, na qual se metem os fueiros;
·         cocão: Cada uma das partes fixadas por baixo das chedas, que servem para fixar, duas de cada lado do carro, cada um dos chumaços;
·         fueiro: cada uma das estacas de madeira que servem para prender a carga ao carro;
·         mesa: a superfície onde se coloca a carga;
·         Recavém ou, requebém, é a parte traseira da mesa.
·         tambueiro: Tira de couro cru, curtido e torcido, que serve para prender o cabeçalho ou o cambão à canga;
·         brocha: Tira de couro cru, curtido e torcido, que serve para prender um canzil ao outro passando por baixo do pescoço do boi.
·         Roda: feita de madeira nobre (Jacarandá), constituí de três pranchas unidas por travas de madeira (cambota) colocadas internamente nas pranchas por furos retangulares, estas fixadas por grampos e chapas de ferro. A circunferência é coberta com chapa de aço fixada à madeira com grampos de aço cuja forma arredondada deixa um rastro característico. (fonte:Dicionário de Caetitenês, de André Koehne; Museu do carro de boi)

São inúmeras as referências feitas ao carro de boi na música sertaneja de raiz. Escolhi um vídeo da dupla pioneira Tonico e Tinoco que junto a Anacleto Rosas Jr. compuseram a canção "Boi de Carro", na qual traçam um paralelo ao boi já velho com o trabalhador que avança na idade. Segue também a letra. Linda demais!
 
Na manguera
Da fazenda do Lajado
Conheci um boi maiado
Descaído como quê
Tempo de moço
Quando eu era candiero
Boi Maiado era ligero
Trabaiava com você.

Boi de carro
Hoje véio rejeitado
Seu congote calejado
Da canga que te prendeu
Boi de carro
Eu ainda sô teu cumpanheiro
Fiquei véio sem dinheiro
Teu destino é iguá o meu

Boi de carro
Sem valia tá afrontado
De puxá carro pesado
Costume que os patrão fais
Eu trabaiei
Trinta ano e fui quebrado
Do lugá foi despachado
Diz que eu já não presto mais.

Boi de carro
Seu oiá triste parado
Ruminando já cansado
Cô desprezo do patrão
Boi de carro
Eu também to ruminando
Essa mágoa vô levando
Dos home sem coração.

Boi de carro
O seu dia tá marcado
Pro corte foi negociado
P'rá mata no fim do méis
Adeus maiado
Meu sentimento é profundo
Vou andando pelo mundo
Esperando a minha veis.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Hoje tem marmelada? Tem, sim, sinhÔ!


Aconteceu no último domingo, dia 09 de fevereiro, a já tradicional Festa do Marmelo do povoado Mesquita, uma comunidade quilombola pertencente ao Município de Cidade Ocidental - GO, entorno de Brasília – DF. Eu e o Dono da roça fomos lá prestigiar. Fui, gostei e compartilho agora c'ocês.


Segundo contam, a cultura do marmelo na comunidade data do século XVIII, quando as primeiras mudas do marmelo (Cydonia oblonga) foram trazidas de Portugal para o Brasil e os boiadeiros trouxeram ao interior de Goiás ao cruzar os sertões.

A origem do povoado e da tradição da marmelada, segundo contam, se deu da seguinte forma: Mesquita era uma fazenda do capitão português Paulo Mesquita, que com o declínio da mineração resolveu abandonar as terras e então deixou a fazenda de herança para três escravas alforriadas vindas de Portugal que trabalhavam para ele e que ali ficaram vivendo e constituindo família. É delas a receita da marmelada. O quilombo foi se formando e ganhando força a medida que negros fugiam de garimpos e outras fazendas onde eram muito maltratados.
Antônia Pereira Braga (1900-2012)
uma das moradoras mais antigas de que se há registro do Quilombo Mesquita.
Completaria 114 anos no próximo 2 de maio
(reportagem mais completa, aqui:
 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/55405-centenaria-quilombola-de-mesquita.shtml )

Os filhos se casavam entre as famílias do próprio povoado e viviam praticamente isolados da maneira tradicional. A comunidade plantava para sua subsistência e vendia os excedentes em Luziânia, antes conhecida como Santa Luzia. Daí, certamente, nasceu o nome da marmelada: Santa Luzia (nome usado até os dias atuais). E  assim seguiram - cultivando suas tradições e costumes, tendo no marmelo e na marmelada (o doce feito a partir do marmelo) a tradicional fonte de boa parte dos seus recursos externos.

João Antônio e sua marmelada
Seus descendentes seguiram a fabricação artesanal da marmelada, ou seja, o doce é embalado em caixas de madeira, feita pelos próprios produtores pois a marmelada conserva-se melhor em contato com a madeira.
Mauro Melo, produtor e fabricante do doce de marmelo no Quilombo Mesquita,
municipio de Cidade Ocidental Goiás
Lavagem e seleção do marmelo
 
Para a feitura do doce - o tacho de cobre. O fogão - um espetáculo a parte.
Cozimento do fruto do marmelo para fazer a polpa e depois o delicioso doce

Além da marmelada, a comunidade produz também, há mais de um século, a goiabada que também é feita artesanalmente, armazenada em caixinhas de madeira. Preservam e divulgam em eventos anuais esta herança econômica, histórica e cultural. Hoje em dia, com energia e frízeres, armazenam a poupa da fruta congelada, de forma que os marmeleiros, como são chamados, podem produzir os doces durante o ano todo.
A receita para se fazer a marmelada é simples: água, açúcar, marmelo maduro e fogo. Agora, quero ver a gente conseguir juntar 200 anos de tradição local no feitio dessa gostosura/iguaria brasileira.

A embalagem tradicional e usada por todos os produtores do doce no povoado
Fica, então, o meu registro dessa celebração à cultura, aos costumes e tradição de um povo injustiçado que conta, da forma mais sofrida, a história do nosso país. Apesar de todos os percalços que ainda enfrentam, como: a falta de incentivo para que a marmelada esteja ao alcance de mais consumidores e, o mais importante,  a certificação e legalização definitiva de uma terra que já foi demarcada como território quilombola pertecente ao Mesquita, esse povoado segue firme no propósito de preservar sua identidade. Como eles bem dizem: "um povo que nega sua raça, nega a si próprio".
 

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O Esturrar da Onça

                              
          Ocês num vão acreditar. Dia desses veio o leiteiro dar conta de que do lado de lá da represa e subindo mais um bocado pros lados da estrada que corta a fazenda vizinha, foi vista uma onça a estraçalhar uma novilha. Era uma onça preta, disse ele. Marrapá! Será que inda existe uma espécie dessas pras bandas de cá? Só vendo, digo, num quero nem ver, mas tomara que seja mesmo verdade.

          Quando eu era menino, começa a narrar mais uma de suas estórias o dono da roça, isso aqui não tinha tanta onça já, mas vez por outra se ouvia o esturrar de uma bem perto da varanda. Depois da construção de Brasília foi um extermínio só. Tinha de todos os tipos no Cerrado – a pintada, a preta e a suçuarana. O esturrar, pra mim, era o mesmo. Eu enfiava a cabeça debaixo do travesseiro por entre o cobertor como um tatu na sua toca, rezando que o sono me pegasse antes dela.

          Quanto a mim, o mais próximo que cheguei de uma onça foi no zoológico mesmo ou nas Caçadas de Pedrinho (obra de Monteiro Lobato)
          
          Fuçando na Wikipédia e outros sites afins, descobrimos que a onça-pintada, a onça-verdadeira como dizem, também conhecida como jaguar, jaguarapinima, jaguaretê, acanguçu, canguçu, é o terceiro maior felino do mundo, após o tigre e o leão, e o maior do continente americano. Ocorria nas regiões quentes e temperadas, desde o sul dosEstados Unidos até o norte da Argentina. Está extinta em diversas partes dessa região. Nos Estados Unidos, por exemplo, está extinta desde o início do século XX, apesar de relatos de que possivelmente ainda ocorre no Arizona.
 
         
         
          Ainda pode ser encontrada em ambientes de florestas tropicais, mas também é encontrada em ambientes mais abertos. A onça-pintada está fortemente associada com a presença de água e é notável, juntamente com o tigre, como um felino que gosta de nadar. É, geralmente, solitária. Tem uma mordida excepcionalmente poderosa, mesmo em relação aos outros grandes felinos. Isso permite que ela fure a casca dura de répteis como a tartaruga e de utilizar um método de matar incomum: ela morde diretamente através do crânio da presa entre os ouvidos, uma mordida fatal no cérebro.
          Embora o comércio internacional de onças ou de suas partes esteja proibida, o felino ainda é frequentemente morto por seres humanos, particularmente em conflito com fazendeiros e agricultores na América do Sul. Foi o que aconteceu pras bandas de cá.


 
     
     A onça-parda é também conhecida como suçuarana, onça-vermelha, dependendo da região. É um felino nativo das Américas. Depois da onça-pintada, é o segundo felino mais pesado do hemisfério ocidental.
    Embora grande, a onça-parda está mais relacionada aos felinos menores e é mais próxima geneticamente do gato-doméstico do que com os verdadeiros leões. Os ataques a seres humanos são raros, apesar de um aumento recente de frequência. Prefere habitats com vegetação rasteira densa e áreas rochosas adequadas às emboscadas, mas também pode viver em áreas abertas.


                    A onça-preta, também conhecida por jaguar-preto, é uma variação melânica da onça-pintada. Pensava-se que poderiam ser de espécies diferentes, mas sabe-se hoje que a onça-preta e a onça-pintada são da mesma espécie. Observando-se atentamente, são visíveis as rosetas e pintas típicas da onça-pintada contra o fundo negro da pelagem da onça-preta. A onça com pelos escuros é um raríssimo exemplar da natureza. Estima-se que apenas 3% do total de onças pintadas são prestas.
 
                
         Bem, particularmente, acho bem difíciR uma espécime dessas andar sorrateiramente por essas bandas de cá. Certamente, se assim for, é uma questão de tempo até que um dos agricultores ou criadores de gado não deem cabo dela. O que é uma pena!
        Separei dois vídeos -  O berranteiro Serjão – o matador de onça e, em seguida, uma sessão de nostalgia:  um vídeo da versão televisiva da obra de Monteiro Lobato “As Caçadas de Pedrinho” em O Sítio do Pica-Pau-Amarelo. Como era bão ser criança!
 
 
 
 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

É Bicho-de-Pé, Chulé!


          Se ocê mora na roça ou só frequenta uma eventualmente, mesmo usando botas, uma hora ele te pega. Entre os dedos, por baixo das unhas, na sola do pé, de ‘ladim’, no calcanhar  - te faz cócegas numa coceira boa de se coçar achando ‘bão’ e, quando ocê se dá conta, num é mutuca nem muriçoca nem maruim. O que é que é que é? É bicho-de-pé, chulé!
          Dia desses tinha mais de penca entre os meus dois pés. Fiquei aperreada sem entender como podia se dar um trem desses já que uso um par de botas que vai até os joelhos por cima das calças toda vez que me embrenho pelo meio dos matos ou vou tratar dos bichos. Enfim, pesquisei mais a respeito e ‘inté’ arregalei os ‘óio’ quando me deparei com uma foto aumentada do bicho.
 
          O bicho-de-pé é uma pulga de cor marrom-avermelhada que quando adulta mede em torno de 1 mm de comprimento. É a fêmea adulta que tem a capacidade de perfurar a pele do homem, porco e outros animais, para se alimentar de sangue e pôr seus ovos.
 
          É um tipo de larva minúscula sem asas (graças a Deus) e que tem seis patas, que cresce e se transforma em um tipo de ácaro ou espécie de pulga chamada Tunga penetrans, que penetra na pele (geralmente do pé) para alimentar-se de sangue e pôr seus ovos, mas também pode acontecer dele picar ao redor dos pulsos, tornozelos e/ou outras dobras quentes da pele.
 
          Essas picadas ocorrem normalmente nos meses de verão e outono. O que explica praticamente o enxame em mim. As larvas desse inseto são mais encontradas em lamaçais, terrenos arenosos, geralmente em locais quentes, secos e sombreados, gramas altas, plantações e bosques. A pulga penetra na pele quando o indivíduo fica descalço na areia, na água suja, ou no chão por onde passam cães e gatos, por exemplo. A melhor maneira de não se pegar o bicho-de-pé é evitar andar descalço. Sua picada provoca muita coceira, e das boas.

          Assim, ocê já sabe – se vir um pontinho preto na pele, circundado por uma pele mais clara e coceira misturada com dor na região – vai ver que é bicho-de-pé.

 
          A não retirada do inseto da região afetada pode levar a infecções secundárias, como tétano e gangrena. Há registros de casos em que a amputação dos dedos dos pés foi necessária. Já pensou um trem desses?!
 
          Agora a parte boa da estória – tem um trem doce de comer batizado com o nome “bicho de pé”. O porquê não sei nem ouvi falar, mas parece ser gostoso e facim de fazer. Segue a receita. 
 

Bicho de Pé
 

Ingredientes:
  • 1 lata de leite condensado
  • 1 colher de sopa de margarina sem sal
  • 1 caixinha de gelatina de morango (pode ser sabor uva, framboesa, amora)
  • Açúcar para enrolar

Modo de preparo:

  1. Em uma panela, coloque o leite condensado e a margarina
  2. Mexa sempre até ferver, em fogo baixo
  3. Assim que começar a ferver, acrescente o pó da gelatina (não precisa dissolver antes)
  4. Mexa bem, em fogo baixo, até desprender do fundo da panela
  5. Espere esfriar para enrolar em forma de bolinhas
  6. Peneire o açúcar e passe as bolinhas no açúcar peneirado

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Frango Caipira "Pirapora" com Pequi


          As árvores do Cerrado são tortas como alguns caminhos e tem a casca grossa, na sua maioria, para suportar as queimadas na seca e outras coisitas do dia a dia. As árvores do Cerrado são lindas sejam verdes ou sejam cinzas. Essa daí é daqui, escora outra, dá pequi e deu inté cupim ... #AkiNaRoçaÉAssim

          E por falar em pequi, estamos em plena temporada de. Já postei há um tempo uma receita desse fruto saboroso e afrodisíaco característico do nosso Cerrado: o arroz com pequi. Hoje vou de "frango caipira com pequi". Mas tem que ser um frango caipira "pirapora" messsssssmo porque só esse frango é que é 'bão' de verdade "bsoluta" e verdadeira (rs).
O Dono da Roça é quem escolhe, pega e ... (snif)

           Pois bem, anotem aí os ingredientes:

- 1 frango caipira "inteirim" "limpim" e aos pedaços;
- Pequi - uns 20 (rs)
- óleo de canola para refogar (2 a 4 colheres);
- 1 cebola grande e picada;
- 5 dentes de alho amassados;
- pimenta de cheiro (a gosto);
- pimenta moída (1/2 colher);
- açafrão (1/2 colher);
- cheiro verde e cebolinha
- sal a gosto;
- água para cozimento.

Preparo:

          Coloque o oleo em uma panela grande, acrescente o frango temperado no sal, na pimenta moída e no açafrão e refogue-o até que fique dourado. Vá acrescentando a cebola, o alho, a pimenta de cheiro. Coloque o pequi doure mais um pouco. Daí, coloque água (1/2 litro mais ou menos), cozinhe até que a carne do frango fique macia. Depois de pronto, coloque o cheiro verde e sirva-se primeiro que todo mundo "causidiquÊ" se for "adespois" num vai sobrar nem um "tiquim".  Inté!

Oh, delícia!



terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Rabo de boi é "bão"


           Coisa corriqueira depois que vim morar mais na roça que na cidade é me aventurar na cozinha fazendo algo típico da gastronomia, digamos assim, “roceira”. O pequi é comum por essa época aqui. Então, já fui à exaustão: arroz com pequi, frango caipira com pequi, pequi com carne moída, pequi purim ... Enchi! Nos doces: arroz doce, bolos de fubá, mandioca ... , a goiabada em calda, a bananada, pudim de pão caramelado e outros “ados” ...
A gente vai tomando gosto e querendo aprender a fazer coisas mais rebuscadas e difíceis para no fim das contas ouvir um: muito bem! Tá aprendendo, hein? Bem-vinda à roça! Evidentemente, que nem sempre a gente acerta e, aí, é zoação. Devo aqui confessar que erro muuuuuuito. Mas faz paRte, afinal, como costumo dizer, quem não se joga não aprende a voaR nem a meRgulhar.
           Assim, dia desses, inventei de fazer uma rabada ao vinho tinto. Marrapá, respeite que a ‘bicha’ ficou boa, viu!
 
'Reza a lenda' que é um prato típico da culinária européia. Depois das touradas, na Espanha, fazia-se um cozido do rabo do boi morto na arena. Em Portugal é mais comum a sopa do rabo do boi. Na Inglaterra é "oxtail soup" que, pelo nome, também é sopa. No Brasil impera o guisado e o hábito de se comer rabada surgiu primeiramente nas áreas de criação de gado primeiramente no Nordeste - Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte e, também, no Piauí. O fato é que caiu no gosto popular e no Brasil a rabada já não existe sem o angú e o agrião.
E como o que é ‘bão’ a gente compartilha, segue a receita do trem:

Ingredientes:

- 1 rabo de boi (mais ou menos 1 kg, 1,5 kg);

- azeite para refogar  (vai aí uns 150 ml);

- farinha de trigo peneirada (mais ou menos 1 xícara);

- cebola (umas duas de médias para grandes);

- alho (no mínimo uma cabeça grande);

- 3 a 4 tomates;

- alecrim (uma porçãozinha);

- coentro e cebolinha (bem picadinhos);
- pimentão;

- agrião (nessa receita via pra decorar o prato);

- 1 vinho tinto seco (daquele que cabe no seu bolso);

- 1 cálice de cachaça (para misturar à água que vai aferventar o rabo);

 - sal e pimenta a gosto.

Modo de fazer:

1º passo: aferventar o rabo (em água que dê para cobrir todo o rabo junto com um cálice de vinho) pra tirar o excesso de gordura e, assim, dar uma limpada melhor.

2º passo: depois de escoar, tempere com sal e pimenta moída na hora. Passe na farinha de trigo e refogue no azeite (já na panela de pressão).

3º passo: vá juntando os demais temperos no refogado: cebola, alho, tomate, alecrim, coentro e cebolinha.

4º passo: acrescente o litro de vinho e tampe a panela de pressão. Daí, é deixar cozinhar por uns 40 minutos (o trem é duro).

Para acompanhar, fiz uma polenta ao leite que é muito mais macia, mas muito mesmo, que a polenta convencional. Fiz assim meio no olho sem muita medição:

          - 2 copos de fubá pré-cozido ou preparado para polenta;

 
 - 1 cubo e meio de caldo de carne industrializado dissolvidos num pouco de água quente;

- 4 copos de leite; 

           - 1 colher, das de sopa, bem cheia de manteiga ou azeite.

            Se você gosta da polenta mais lisinha e mole, aumente os líquidos ou diminua o fubá.

            Coloque o caldo e o leite em uma panela alta e espere ferver. Vá acrescentando a manteiga e, assim que ela derreter, junte o fubá aos poucos e mexa bem com um batedor de arame de preferência para não empelotar.
Mexa até o creme engrossar e começar a desgrudar do fundo da panela (uns 30 minutos).

             Desligue o fogo, claro (dã).

Essa é a de um "chef"
 
  Na hora de servir, cubra o fundo de um prato com a polenta e coloque uma bela porção de rabada por cima, caprichando no molho de vinho... Decore com folhinhas de agrião, se tiver; eu não tinha. (Putz! Como fez falta na decoração do prato ...). Aliás, não usei batatas também, mas essas podem ser adicionadas ao guisado quando ele estiver pronto e cozinhar um pouco para não despedaçar ou, ainda fazê-las à parte com agrião. Bom, acho que é isso. Seja feliz!
Foi assim que ficou o meu
 
Se ocê olhaR bem lá no fundo do molho no prato vai encontraR um veRde musgo (rs)