quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A Colcha de Retalhos

Uma colcha de retalhos é um álbum de retratos, de momentos ventilados de prosa e poesia. São coisas de casos e de acasos no caos dos encontros rasgados em despedidas. Voltas e idas pra não mais, nem de fantasia, mas só se. São olhos ora bem abertos de tão esbugalhados ora fechados em lágrimas vertidas. São quintais varridos pros dias de festa, a conversa, a siesta. É a moça à espreita na janela, o rapaz, a seresta. A criança que brinca, que berra. É a alegria de vidas vividas e vozes que se esbarram no dia a dia da lida ou da preguiça. Pedaços de aço, embora em restos, daquele pano, daquele vestido, daquele terno, daquela cortina, da encomenda farta e finda. Sou eu, são nós de nós em corações aos pedaços juntados entre pontos e contos, bordas em bordões. Aqui na Roça é assim, seja na casa da cidade grande, seja no Rancho Fundo bem pra lá do fim do mundo', na casa de pau-a-pique, ela está lá, esparramada na cama assim, assim, a nos convidar pra descansar ouvindo histórias que os olhos já não podem ver só por Si.


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Da Seca à Bonança

No Cerrado de Brasília e entorno foram 107 dias de seca esse ano. Esse tipo de vegetação, o Cerrado, cobre cerca de 22% do território nacional, abrangendo oito estados do Brasil Central: Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Bahia, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí e o Distrito Federal.
As conseqüências são dias muito secos e quentes e noites frias, como acontece nos desertos.  Apesar do calor, a baixa umidade faz o organismo transpirar pouco, prejudicando a lubrificação da pele, deixando-a ressecada.  A umidade ideal para que o organismo se sinta bem é de 80% com mínima de 50%. Brasília, por exemplo, em época de seca a umidade pode chegar a 10%, igual à do Deserto Saara.
A baixa umidade do ar é o que caracteriza a seca. Esse (o ar) fica mais rarefeito, com menor quantidade de oxigênio e com menor quantidade de água. Daí, as constantes notícias de queimadas todos os anos. Segundo o Corpo de Bombeiros do DF, foram registrados 82 focos de queimadas, destruindo 746 hectares de vegetação do Cerrado, isso somente num final de semana.




Costumo dizer que a chuva é para o Cerrado uma espécie de 'fada' que sopra ao ouvido de cada galho e toco ressequido, queimado e retorcido: “anda, levanta, reflora, reverdece, respira, viceja!”. É assim mesmo que acontece logo nas primeiras chuvas na entrada da primavera. Como que por um milagre, o Cerrado se regenera a olhos vistos, da noite para o dia - dorme seco, acorda verde e sorrindo em flor e frutos.
Os principais arbustos encontrados no Cerrado são: pau-santo, pequi e lixeira. As árvores são, na sua maioria, de pequeno porte e galhos tortuosos. As árvores mais altas do Cerrado chegam a 15 metros de altura. Apenas nas matas ciliares as árvores ultrapassam 25 metros e possuem normalmente folhas pequenas.
Pau-Santo

É no início da estação chuvosa (setembro – dezembro) que a maioria dos frutos de Cerrado amadurecem – amora, ananás, araçá, araticum, babaçu, bacupari, buriti, baru, chichá, curriola, gabiroba, gravatá, guapeva, jabuticaba, jatobá, jerivá, murici, cagaita, genipapo, macaúba, manga, mangaba, murici,  pitanga, pitomba, puçá, pequi, entre tantos outros que são uma festa para a visão, olfato e paladar.
Pé de Jabuticaba carregado
Estou longe de conhecer todos os sabores do Cerrado. Também como poderia? Mas me gabo por ter sempre ao alcance acerolas, avocatos, bananas, laranjas, jabuticabas, mama-cadela, mangas, cagaitas, maracujás... Tudo no fundo do quintal alheio (rs).
Pé de Cagaita
As formigas sempre são vistas debaixo dessas árvores nessa época. Os bois e vaquinhas aqui da roça são bem seletivos e só comem os melhores frutos que caem ao chão.
Dentre os frutos do cerrado, sorvete de cagaita é um dos mais saborosos que provei
O Pequi é uma outra árvore nativa do Cerrado brasileiro. Na língua indígena, pequi significa "casca espinheta". O fruto do pequizeiro não é, digamos assim, uma preferência nacional, mas pra quem gosta, como eu, há uma série de receitas boas demais da conta, moço! A mais conhecida e pedida é o frango com pequi, mas se destacam também pequi ao molho caipira e carne de carneiro com pequi. Da polpa se pode extrair o azeite de pequi - óleo usado como condimento e  na fabricação de licores. Há também até, pasmem, sorvete de pequi. Euzinha mesma provou esse sorvete com sabor pra lá de exótico na sorveteria "Frutos do Brasil" na Capital goiana e também na "Sabores do cerrado" em Pirenópolis. 

Selecionei e segue abaixo uma receita mais simples e fácil de fazer capaz de agradar desde carnívoros a vegetarianos: Arroz com pequi.


Ingredientes
1 xícara (chá) de arroz
2 colheres (sobremesa) de óleo de canola
10 pequis
2 dentes de alho picados
1 cebola média picada
3 colheres de sopa de salsinha picada

tomates para decorar

Modo de Preparo do Arroz com Pequi


Refogue o arroz com o alho e a cebola. Coloque a água e os pequis. Deixe cozinhar e sirva quente. Salpique salsinha e decore com os tomates.

Na hora de servir, lembre-se que a polpa só pode ser mordida superficialmente. Logo abaixo ficam os espinhos que podem machucar e são difíceis de serem retirados.
Rendimento = 4 porções                       
Calorias por porção = 290



















E, então, gostaram? Já conhecem? Aprovaram? Eu provei, aprovo e recomendo. Bom apetite!

domingo, 2 de outubro de 2011

Festa na Roça

Se tem festa na roça, os roceiros passam o dia arrumando os ‘trem’ – roçam ali, lavam aqui, limpam acolá ‘pra mode’ os festeiros acharem tudo lindo e brilhando.  E, antes das seis da tarde, já está tudo 'nos trinques' à espera do povão. Sim, isso porque a folia costuma começar cedo na roça, antes mesmo da Lua subir.





Vem gente de toda a redondeza - parentes, aderentes, vizinhos, amigos,  conhecidos e, até, convidados dos desconhecidos. Afinal, a festa é na roça, é sinônimo de fartura e boca livre – tem arroz de carreteiro, frango caipira, feijão tropeiro e, é claro, as tradicionais iguarias do milho: pamonha, curau, broa, bolo, canjica.


Pra dar ainda mais 'sustança' tem amendoim, cocada, rapadura, doce de leite com queijo, marmelada ... Veja bem, olhe bem, preste atenção! Tem como algum ser humano resistir a tanta coisa gostosa assim junta e misturada? Eu não resisto e nem ligo - deixo pra pensar nos quilos a mais amanhã que, no caso, é hoje (snif).






No fogão à lenha é que são preparadas a maioria das guloseimas. Destaco o arroz de carreteiro que, embora seja originário da culinária do Sul, faz um sucesso enorme também na Região Centro-Oeste.



Segue a receita para um delicioso arroz de carreteiro -
Ingredientes para 6 porções:
3 xícara(s) (chá) de arroz cru                             
2 colher(es) (sopa) de óleo de soja
1 kg de carne seca
2 dente(s) de alho picado
1 unidade(s) de cebola ralada(s)
7 xícara(s) (chá) de água fervente
sal a gosto


Modo de preparo:


Coloque com antecedência a carne seca de molho, trocando a água por várias vezes. Melhor deixar em geladeira, por 24 horas. Cozinhe-a até que esteja macia e pique ou desfie. Refogue o alho e a cebola no óleo e junte a carne seca picada ou desfiada. Acrescente o arroz e frite bem, mexendo sempre. Adicione a água e baixe o fogo. Na hora de servir coloque por cima salsa picadinha. Deve ser servido ainda úmido, por isso, prepare na hora de servir.

Além da 'comilança', não faltam as 'biritas'. Às vezes falta cerveja, mas pergunte se falta pinga!



A alegria dança ao som da sanfona do sanfoneiro ‘Zé’. Tem gente de chinelo de dedo, gente ‘chic’ de bota e até ‘muié’ de coque e de aplique. Gente de família, gente sem nome, sem eira ou beira e, muito embora, sem nenhum dente na boca não nega um sorriso de tão agradecido por estar ali.

Tudo isso, sem falar dos 'chiliques' por causa do ciúme depois que a ‘maRvada' pinga sobe pro quengo dos fracos das idéias.

Sei de um toco que tacaram no Tonico. Outro Tonho, de tantã, de tão tonto e de tanto rir, foi quem pagou o pato.

E o povo pula, grita, agita e dança e pede ‘pelo o amor’ que o tempo esqueça de avisar pro Sol que já é hora de desligar a Lua e alumiar a estrada de volta pro corpo ir descansar.