quinta-feira, 4 de abril de 2013

Eh, boi!

 


Ouvindo o aboio de um peão aqui na roça ao conduzir meia dúzia de ‘gado pingado’, fui pesquisar na net sobre a origem do aboio e me deparei com um artigo belíssimo de Lúcia Gaspar, Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco.


Sem mudar nem vírgula, e principalmente ela, segue seu texto na íntegra e entre aspas. E para fechar com chave de ouro, segue o vídeo “Caboclos aboiando no Nordeste e Homens de Couro” (um verdadeiro achado num garimpo) do Programa Caminhos da Roça, com reportagem de Dirceu Martins e imagens de Chico Escolano. É prosa em poesia cantada, pessoaR. Imperdível!

 
Por Lúcia Gaspar

 “O aboio típico no Nordeste do Brasil é um canto sem palavras, entoado pelos vaqueiros quando conduzem o gado para os currais ou no trabalho de guiar a boiada para a pastagem.

É um canto ou toada um tanto dolente, uma melodia lenta, bem adaptada ao andar vagaroso dos animais, finalizado sempre por uma frase de incitamento à boiada: ei boi! Boi surubim! Ei lá, boizinho!

Esteja atrás (no coice) ou adiante da boiada (na guia) o vaqueiro sugestiona o gado que segue tranquilo, ouvindo o canto.

No sertão do Brasil é sempre um canto individual, entoado livremente, sem letras, frases ou versos a não ser o incitamento final que é falado e não cantado. Os que se destacam na sua execução são apontados como bons no aboio.

Existe também o aboio cantado ou aboio em versos que são poemas de temas agropastoris, de origem moura e que chegou ao Brasil, possivelmente, através dos escravos mouros da ilha da Madeira, em Portugal, país onde existe esse tipo de aboio.

Segundo Luís da Câmara Cascudo, o vocábulo aboio é de origem brasileira, sendo levado para Portugal, uma vez que lá aboio significava pôr uma boia em alguma coisa.

O aboio não é divertimento é uma coisa séria, muito antiga e respeitada pelo homem do sertão.

Pode aboiar-se no mato, para orientar os companheiros dispersos durante as pegas de gado, sentado na porteira do curral olhando o gado entrar e guiando a boiada nas estradas. Serve para o gado solto no campo, assim como para o gado curraleiro e até para as vacas de leite, mas em menor escala, porque nesse caso não é executado por um vaqueiro que se preze e tenha vergonha nas ventas.

O escritor José de Alencar, no seu livro O sertanejo, diz do ritual do aboio: Não se distinguem palavras na canção do boiadeiro; nem ele as articula, pois fala do seu gado, com essa linguagem do coração que enternece os animais e os cativa.”
 
 
 
 

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