quarta-feira, 6 de julho de 2011

Um "chêro bão" de baião!

Como numa análise, fui em busca de memórias afetivas para escrever esse artigo. Em especial, aquelas olfativas que, como dizem especialistas, são as mais fortes quando ligadas à emoção. E, de fato! Por vezes sinto o cheiro de coisas, pessoas e lugares que não mais - o cheiro da vila onde morei na infância em João Pessoa, das merendas servidas sobre uma mesa amarela com quatro cadeiras, das mãos da costureira que tecia minhas tranças. Amarelinha, pega-pega e pique-esconde? Tem cheiro pra mim – de “melissinha”, aquelas de tirinha. Lembro até do cheiro da minha primeira professora: Elizabeth! Ela tinha cheiro e cor de jambo. Uma delerência! Meu primeiro livro, aquele que me recordo e me orgulho de ter lido primeiro - Meu Pé de Laranja Lima –  tem cheiro de ternura. Sim, são mais que doces lembranças.

Josephine de Beauharnais
E o primeiro beijo? Ah, o primeiro beijo! É sempre inesquecível e, mesmo que não tenha sido tão gostoso assim, fica melhor depois e a cada encontro. L'amour, l'amour... Como o cheiro da pessoa amada inebria e vicia. Ninguém vê, não se ouve, tem veneno o seu toque, paladar não explica. O cheiro, sim. Napoleão, reza a lenda, certas vezes pedia para que Josefine nem sequer tomasse banho tamanha era sua tara no seu cheiro. Tem gosto mesmo pra tudo, ou melhor - olfato pra tudo! No meu caso, acho muito bom o cheiro da pele, sim, desde que esteja muito limpa, hidratada, perfumada. Não precisa ser com loção francesa, mas que seja.

"É nóis"
Exageros à parte, eu mudei e também mudei para o cerrado; tudo mudou e muda todo dia e a cada instante e pra todo mundo. A saudade que não... E por falar em saudade e não fugir do cheiro, seguirá aqui uma receita daquelas que enche uma casa de vida. Na Paraíba, chama-se "rubacão" que nada mais é, e que bom que é, a mistura nossa de cada dia - o velho e bom feijão com arroz. Noutras aldeias desse "Brasilzão"chamam-na de "arrumadinho" e 'baião-de-dois", como é conhecida em São Paulo - capital que abriga mais de 4 milhões de nordestinos nordestinados. Vale aqui lembrar que a receita ficou muito mais famosa e formosa quando fomentada pela dupla Luiz Gonzaga, o Gonzagão - rei do baião, e Humberto Teixeira na música "Baião-de-Dois".
São muitas as versões e variações dos ingredientes nessa receita. Algumas até sofisticadas demais se comparados à origem simples do prato. Segue, então, uma receita sem muitas firulas e com o sabor de infância pra lá de bem nutrida.
Ingredientes:


1/2 kg de feijão verde, ou feijão de corda, que é feijão verde já seco;
200 g de toucinho defumado;
1 paio (cortado em rodelas);
2 tabletes de caldo de bacon;
1 cebola grande picada ou ralada;
1 dente de alho amassado;
1 pimenta de cheiro amarela;
4 colheres manteiga de garrafa;
Salsinha ou coentro picado, de 1 colher (sopa) à 1 xícara;
2 e 1/2 xícaras (chá) de arroz;
150g de queijo de coalho (cortado em fatias finas).


Modo de Preparo:
·         Lave o feijão e o deixe de molho de véspera.
·         No dia seguinte, cozinhe-o juntamente com o paio e o caldo de bacon dissolvido em dois e meio litros de água fria.
·         Se usar o feijão mulatinho opte pela panela de pressão.
·         Tampe a panela e deixe cozinhar em fogo baixo por cerca de 1 hora.
·         Em outra panela, doure a cebola e o alho, na manteiga.
·         Junte o coentro e o arroz e refogue bem até ficar
 brilhante e um pouco transparente.
·         Acrescente o feijão e o paio já cozidos,
juntamente com o caldo.
·         Misture bem, tampe a panela e deixe cozinhar até
que o arroz fique cozido, úmido e com consistência
cremosa.
·         Durante o cozimento do arroz, se necessário adicione
água, tomando o cuidado para não deixar a mistura
ficar seca.
·         Junte a salsinha e mexa com cuidado.
·         Então, cubra a mistura com as fatias de queijo.
Tampe a panela novamente e deixe que o
vapor derreta o queijo.




Alguns sites sugerem servir a iguaria em uma travessa de barro acompanhado de: costelas de porco; mandioca frita; ovo frito; carne de sol frita ou assada; banana-da-terra cozida e picada ou com farinha de mandioca.


E a música de fundo, hein? Taí um capítulo (saga) à parte. Já sou indecisa por natureza e a variedade de opções inda me persegue! Mas, enfim, não quis chover no molhado escolhendo o velho baião "Baião-de-dois" de Gonzagão, nem coroar o baião com um jazz ou rock ou qualquer outra canção MPB mais requintada. Assim, sem mais quê nem quê lá, segue a trilha "Tareco e Mariola", do compositor e cantor pernambucano Petrúcio Amorim, meu vizinho de porteira, com direito à prosa e poesia do mesmo. Porque o Brasil é grande e suas cantigas tem seus olhos d´água fincos no sertão, gostem ou não. #Eitha!









10 comentários:

  1. Gostei da combinação...

    Um excelente texto, uma receita das mais deliciosas e uma música que toca até mesmo o coração de quem não é filho desse nordestão velho de guerra. ;)

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  2. Que bom ter conseguido alcançar seu coração. Valeu pelo coment e pela cia.

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  3. Muito bem garota : ) Agora você é uma "escrivinhadora diletante". Traga sempre a sua visão sobre o universo da roça. O povo da cidade gosta e precisa conhecer : ) Parabéns!

    Beijão!

    Ricardo Icassatti Hermano

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  4. Esse é o caminho e a intenção, Ricardo. Acontece naturalmente quando seguimos os bons. : )

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  5. Um prato cheio! Excelente texto! Parabéns!

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  6. Celene, fico feliz d+ e honrada com sua cia aqui. Valeu!

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  7. Que beleza de texto, que música maravilhosa, que grande revelação para mim o veterano Petrucio. Coisa boa demais tudo isso. Tuitei e facebukeei adoidado

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  8. Meu caro Nei, preciso dizer que fiquei lisonjeada e emocionada com suas palavras. Sempre adimirei seus tts livres - muitos dos quais nem consegui alcançar - mas daí um elogio desses... Com os "óio" rasos d'água OBRIGADA!

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  9. Bom dia, permita-me...

    Que coisa linda, literatura livre e solta como borboletas que a gente tem de correr atrás para apreciar o colorido, parabéns e obrigado pela doação!
    Me traga! por favor, um punhado de farinha para eu poder saborear esse cheirinho de torresmo, isso é gostoso demais! seja feliz amiga!

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  10. "Como borboletas". Exatamente isso. Estilo é coisa pra gente grande como você. O que eu tenho é o meu "jeitin" de escrever. Portas e janelas sempre abertas pra você chegar! Tem farinha. (rs)

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